- Posso entrar? – disse alguém, antecedido de uma batida na porta.
- Claro.
Um rapaz alto passou pela porta, a cabeça mais parecia com uma tocha acesa de tamanha vivacidade que tinha o tom ruivo do seu cabelo. Tinha somente um ano a mais que a garota, mas qualquer um poderia jurar de joelhos numa bacia de cacos de vidro e giletes que era muito mais velho.
- Meu pai quer saber se você está bem. Já são sete horas... – Ludwig informou-a pausadamente. Seu rosto, além da aparência doentia de sempre, apresentava certo tom pensativo e preocupado. A prima, ou quase prima, ou quase irmã, era uma das duas únicas pessoas com quem ele se importava na vida. A outra, obviamente, era seu pai, pois o resto, se não era de nenhuma importância, era de relativamente muito pouca. Agora, ele e François pareciam dividir o mesmo cuidado em relação à mudança de escola de Louise. Ela estava a tanto deitada ali, na mesma posição, que parecia estar completamente abalada e deprimida, coitada. A menina poderia até ter um treco. O jovem só tinha a precaução de não olhar muito para Louise enquanto estava preocupado com ela. Suspirou e retomou a fala, insistentemente olhando para os pés da cama. – Você... Você está chateada com o quê Louise? Não se preocupe, porque...
- Será... – interrompeu Louise, ainda pensando. O primo, ao lado da cama, se calou; ele já imaginava a conversa que se seguiria.
- Será que eu vou ficar sozinha no novo colégio, primo? E se ninguém gostar de mim? E os meus amigos daqui? E VOCÊS? – dizia a menina, com voz de choro e olhos suplicantes.
Então, Ludwig a consolaria, falaria que ela poderia voltar quando quisesse e que a família nunca está longe da gente. Ele chamaria o pai, e os três ficariam abraçados um bom tempo como uma linda família feliz. Eles chorariam um pouco, mas logo depois estariam comendo biscoitos com marshmallows perto da lareira.
- Será que eu vou ter que acordar muito cedo? – completou. Ela parecia realmente decepcionada. No caso, o primo também. Ele quase caíra para trás. Estava com vontade de enforcar a menina agora. Como ela pode deixar todo mundo preocupado com ela desse jeito? - Aiai, parece que vai acabar a vida mansa pra mim, Luddy... – ela dizia com um sorriso torto, sentando-se.
Uma verdade era que Louise nunca dera muito valor à família ou amigos. Apesar de ela de fato ter perdido os pais, não fora nenhum trauma de infância nem nada; ela simplesmente era assim. Companhia era bom realmente, o que ela reconhecia e gostava. Mas também se virava muito bem sem ela. Louise não chegava a desvalorizar totalmente as relações com as pessoas, ela só não sentia depender da ajuda, amor, piedade, ou o que quer que fosse de ninguém. Se sentia falta de alguém, não demonstrava, pois era incomum até para si mesma. Restava-lhe imaginar se na tal “Escola Preparatória Prufrock” eles acordavam cedo ou tarde, se a cama era boa...
- É, parece que sim... Mas não acho que isso se torne um grande problema para você. – a voz de Ludwig saía mais reflexiva que o normal. Ele ainda estava meio assustado com a ação da menina e irritado consigo mesmo por se preocupar com ela. Enquanto isso, ainda tentava evitar olhá-la. Era muita coisa ao mesmo tempo para sua cabeça de fogo. – Hum... Eu acho que você devia descer e comer alguma coisa agora, Lou. Depois você pode arrumar suas coisas para a viagem. Vai dar tudo certo. – concluiu o rapaz, tentando sorrir a fim de passar um pouco de aconchego para a prima que claramente não estava precisando. Ele não fazia aquilo com muita frequência, de qualquer forma. Abrir os lábios e mostrar os dentes era uma reação quase desaprendida para ele.
- Sim. – ela retribuía o sorriso fracamente – E você poderia aprender a sorrir mais, nem que seja falsamente, querido cabeça-de-fogo. Faz bem para o fígado e irrita seus inimigos. – disse fazendo um sinal positivo e saindo pela porta, enquanto cantarolava alguma melodia desconhecida e claramente descompassada. Ludwig soltou um risinho, e não precisou de esforço para fazê-lo.
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