The Displeasing Displacement – Parte II de VI

Era uma manhã chuvosa de sexta-feira. Os pingos mornos batiam superficialmente nas janelas do casarão; o sol já reaparecia atrás das nuvens. Louise levantou-se sozinha, meio atrasada, pois Ludwig tinha se recusado a acordar a garota. Desceu as escadas já com a roupa da viagem, dançando e sapateando pelos degraus, cantarolando a mesma música do dia anterior que não saíra da sua cabeça.
- Boooom dia, mamutes paraplégicos! – gritou com um sorriso largo quando chegou à sala. Seus braços estavam em posições estranhas do corpo, assim como também as pernas, que faziam algum tipo de manobra extravagante típica do final de algum espetáculo. Ela claramente estava tentando fazer seu “grand finale” para o famoso sapateado-dos-degraus.
- Ah, bom dia Louise. – respondeu um tufo vermelho atrás de um livro sobre alguma coisa que não era nem sobre esquilos, nem sobre física molecular. – O que aconteceu, está feliz hoje?
- Não. – a prima falou calma e com naturalidade. Ludwig não sabia por que insistia em perguntar as coisas para ela, como se não estivesse acostumado com a possível resposta ou reação. De alguma forma ele só não sabia como se acostumar ao imprevisível, mesmo que já tenha tido tempo para isso.
- Ah, entendo... – não, ele não entendia – Mas...
- BOM DIA BRANCA DE NEVE! – berrou um senhor de idade e meio acima do peso, com seu cabelo curto bagunçado que era de um castanho um pouco mais claro que o de Louise. Saía pela porta da cozinha em direção à menina, exibindo um sorriso brilhante tão marcante que poderia ser visto por alguém do outro lado da rua, se esta pessoa tivesse óculos de raio-x para ver através da casa.
- Bom dia, tio. – respondeu ela, saindo da conversa com o primo para ir para os braços do tio, enquanto Ludwig sussurrava um “É Bela Adormecida...” sentado no sofá azul-acizentado. – Nós já vamos agora?
- Claro claro, sim sim! – Louise revirou os olhos; não entendia a necessidade da repetição, ela não era sonsa o suficiente para não entender o que ele estava dizendo. Mas tudo bem, aquele era seu tio. – Pode ir à cozinha e enfiar um pedaço de bolo goela abaixo logo, se não vamos chegar muito tarde. Só tenha cuidado para não comer um pedaço de rosca ao invés do bolo, pois eu conheci um sujeito que...
- É tão longe assim? Eu já estou perdendo a aula de hoje mesmo, não precisamos nos apressar tanto.
- Se não nos apressarmos, capaz de você perder também a de segunda! – Louise respondeu com uma careta. – Mas não precisa desse drama todo. Chegaremos a tempo se sairmos agora, e você ainda pode ir dormindo a viajem inteira Lou-lou. – disse François, consolando a garota com um afago nos cabelos dela.
- Ah, pelo menos isso. De qualquer forma, vai ser uma longa viagem...
- Vai... Mas sem drama, ah-ah! Dará tudo certo! E eu estarei com você até o momento em que embarcar no trem! – falou o homem em tom alto, esperançoso e positivo, e então Louise tentou passar a mesma positividade com sorriso amarelo.
A garota correu para a cozinha, tomando cuidado para não confundir o pedaço de bolo com o de rosca, enquanto o tutor gentilmente foi buscar suas malas. Deu um abraço e um beijo no rosto do primo, que retribuiu mesmo parecendo ficar com uma cara de dor mais forte que o de costume. Ele preferia evitar ter que abraçá-la, mas não tinha jeito; ele não veria a garota por um longo tempo.
- Se cuida, bicolor.
- Se cuida, tocha.
Ele riu, balançando a cabeça, assistindo François e Louise indo em direção ao carro.



Ouviram-se dois estalos rápidos dos cintos de segurança de ambos travando-se. A garota virou-se para o lado.
- François, e a história do seu conhecido que comeu um pedaço de rosca? – perguntou, com um leve tom de curiosidade na voz.
- Ah... Ele morreu engasgado com um pedaço de rosca que comeu muito rapidamente. – o homem faz uma cara de quem acaba de falar algo que nem ele mesmo havia entendido direito. Louise não resistiu, e soltou uma gargalhada psicótica que ecoou pelo carro inteiro. Imediatamente levou a mão à boca; os olhos ainda brilhando. – LOUISE!
- Desculpa, tio. É que é engraçado. Se eu morresse engasgada com um pedaço de rosca, viveria o resto da minha vida com saco na cabeça de tanta vergonha. Ah é, eu estaria morta. – dizia pensativa, com um sorriso torto. Começou a imaginar um fantasminha com o rosto vermelho e o pescoço inchado, a boca suja de quem acabara de comer com muita pressa, balançando os bracinhos para ver se alguém o enxergava, ainda sem acreditar que acabara de morrer de uma maneira altamente ridícula. A garota deu alguns risinhos abafados e contidos.
- Ah, Valerie... – Agora era o próprio tio quem ria. – Você é mesmo impossível.


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